“A safra de grãos segurou a economia do Brasil”. “Exportações do amendoim brasileiro crescem a cada ano”. “Amendoim usado na renovação do canavial passa a ser negócio”. “Benefícios do amendoim na alimentação aumentam seu consumo no mercado interno”. Estas são apenas algumas das manchetes que temos acompanhado nos últimos meses sobre uma cultura que atingiu, nesta última safra, o seu auge em termos de quantidade e qualidade: a do amendoim.
A leguminosa que começou a ser usada na região de Ribeirão Preto como alternativa de sucessão de cultura ao plantio de cana-de-açúcar, trazendo inúmeros benefícios na renovação do canavial, consolidou-se como um excelente negócio. “Os benefícios nutricionais da cultura do amendoim no sistema produtivo da cana são inegáveis. Por exemplo, para mais ou menos um quilo de vagem estamos falando em 14 kg de nitrogênio, 18 Kg de cálcio, 6,6 kg de magnésio, 1kg de enxofre, além de potássio e fósforo”, disse o Prof. Dr. Carlos Alexandre Costa Crusciol, da FCAV/Unesp Jaboticabal. Para ele, o amendoim é uma cultura que deixa um saldo muito positivo para a cana.
O Prof. Dr. Pedro Luís da Costa Aguiar Alves, da FCAV/Unesp Jaboticabal, concorda. “Há também o controle cultural, já que o amendoim tem potencial alelopático, ou seja, pode causar a redução do crescimento de plantas daninhas. Trata-se, portanto, de uma cultura supressora. E o controle mecânico nos mostra que o amendoim tem um diferencial em relação a outras culturas que podem ser usadas na reforma do canavial: sua colheita/arranquio causa o revolvimento do solo, um controle mecânico a mais”, disse Alves.
De renovador a negócio
A cada cinco ou seis anos, os canavieiros precisam interromper o plantio de cana-de-açúcar para recuperar a produtividade da área. Antes do replantio, costuma-se plantar uma leguminosa, que beneficia o solo para o próximo ciclo de cana. Em geral, o amendoim é uma boa opção para cumprir este propósito. Felizmente, o desempenho da cultura nos mercados interno e externo atingiu um patamar que fez com que ela passasse de coadjuvante a personagem principal em muitas propriedades e representasse a principal fonte de renda para muitos agricultores.
O crescente consumo mundial de amendoim e o consequente aumento na demanda global fazem com que a cultura no Brasil venha apresentando um crescimento gradativo, tanto em produção quanto em exportação. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que em 2012, o Brasil produzia 256.600 toneladas em casca. A safra 2019/2020 apresentou um valor bem mais significativo: 557.500 toneladas, recorde na série histórica, com um aumento de 9,7% na área plantada em relação à safra anterior e São Paulo é o estado que mais produz.
Produtores celebram o crescimento da cultura
Para centenas de produtores, a cultura passou a ter um papel central em suas propriedades. É o caso de Carmem Izildinha Carneiro Leão Penariol, produtora de Jaboticabal. Ela conta que entre 1964 e 1965, com a necessidade de buscar diversificação de cultura e remuneração para manter-se na agricultura, a família iniciou o plantio de amendoim. “A princípio em pequenas áreas próprias e em parcerias com outros pequenos proprietários. No início da década de 70, fizemos parceria com usinas já como rotação de cultura com a cana-de-açúcar. Armazenávamos na propriedade e conseguíamos vender no melhor momento, com melhores preços, e, consequentemente, com maior lucratividade”, conta Izildinha.
O produtor Nilton Souza Júnior, da região de Ribeirão Preto, reforça que as áreas destinadas ao plantio de amendoim são, na sua maioria, bem preparadas, descompactando o solo, o que favorece a implantação do novo canavial. “O amendoim, ao contrário de outras leguminosas, não possui nenhuma resistência a herbicidas, o que facilita sua total erradicação após o término da cultura, deixando a área limpa, descompactada e livre de doenças que podem atrapalhar o novo canavial”, disse o produtor que atualmente tem renda extra com o amendoim.
Fernando Ferreira estava na faculdade e teve que enfrentar uma situação muito difícil: a morte prematura de seu pai, o produtor José Mauro Ferreira. Fernando deu uma pausa na Faculdade de Agronomia e entrou de corpo e alma para uma função que não largaria mais: cuidar de seu próprio negócio. E até hoje, seguindo o velho ditado de que “o olho do dono é que engorda o boi”, Fernando se dedica com afinco ao cuidado de sua propriedade. O primeiro plantio de amendoim da sua família foi na safra de 1983/1984. “O amendoim sempre foi plantado no sistema de rotação com a cana-de-açúcar. Somos pequenos produtores, nossa produção varia de 12 a 15 mil sacos, dependendo do ano e quantidade de hectares plantados, mas para nós vale a pena, porque é uma renda extra, e pela rotação com outra cultura. Sentimos orgulho em saber que o amendoim está sendo reconhecido”, comentou Fernando.
Importância econômica
O Prof. Dr. Rouverson Pereira da Silva, docente da FCAV/Unesp Jaboticabal, destaca que outro aspecto importante do amendoim é o fato da cultura ter suportado bem as adversidades econômicas, propiciando boa remuneração aos produtores. Segundo ele, a renda líquida pode girar de R$ 1.600,00 a R$ 2.000,00 por hectare, sendo, portanto, uma excelente opção para a rotação com cana. O docente informa que Jaboticabal é responsável por uma em cada quatro toneladas que o Brasil exporta e, por este motivo, foi reconhecida, em 2018, como a Capital do Amendoim. O Brasil é o 13º produtor de amendoim do mundo, o 5º em exportação, e 90% da produção nacional está no estado de São Paulo.
“A agricultura digital pode propiciar vários avanços para produção de amendoim, tais como o desenvolvimento de novos métodos para estimar a maturação utilizando sensoriamento remoto, uso de inteligência artificial para monitorar pragas e doenças, dentre outros aspectos. Com a agricultura digital os produtores poderão obter melhores condições para o gerenciamento de suas lavouras, reduzindo perdas e, consequentemente, obtendo melhores resultados de produtividade”, garante, explicando que a agricultura digital possibilita a detecção, monitoramento e a otimização na gestão da propriedade rural, orientando o controle e a potencialização da produtividade, preservação do meio ambiente, e a melhoria nas decisões, permitindo o aumento da renda da atividade. “Este gerenciamento pode ser feito através de muitas ferramentas disponíveis no mercado”, completou.
O presidente da Coplana Cooperativa Agroindustrial, José Antonio Rossato Junior, afirma que a geração de renda extra ao produtor de cana-de-açúcar e melhor aproveitamento dos ativos (terra, máquinas, implementos, etc.) mudaram o faturamento da Cooperativa, que hoje tem no amendoim mais de 50% do seu total. “A renda do amendoim contribui em média com 15 a 20% do rateio do custo de implantação do canavial. Os benefícios agronômicos da cultura impactam positivamente numa maior produtividade média do ciclo da cana-de-açúcar”, resumiu Rossato.
A importância econômica do amendoim no mundo atual, segundo a Embrapa, é revelada no fato de ser uma das culturas agrícolas que mais pode contribuir para sustentar o aumento da demanda de produtividade por hectare, sem ampliar a fronteira agrícola. Este dado positivo não é o único benefício do amendoim: popular na dieta dos americanos, que consomem quase três quilos per capita por ano, a leguminosa tem sido cada vez mais apreciada no Brasil. Fonte de vitaminas e com alto valor nutricional, o amendoim possui, segundo nutricionistas e nutrólogos, propriedades funcionais que contribuem com a saúde.
“O alimento é rico em vitamina E, reconhecida por seu papel antioxidante e também responsável por contribuir na preservação do sistema imunológico; vitaminas do Complexo B, que são essenciais ao sistema nervoso e ajudam na formação de neurotransmissores como a serotonina (proporciona sensação de bem-estar); além de possuir Ômega 3 e Ômega 6, cuja função combinada promove renovação celular e previne o envelhecimento. Entre outros compostos, a leguminosa também apresenta ácidos graxos monoinsaturados, conhecidos como gorduras do bem, que contribuem para prevenção de doenças cardiovasculares, e fibras que garantem saciedade”, informou o Dr. Fernando Badhur Chueire, médico nutrólogo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-USP).
Já não bastassem os valores nutricionais listado pelo nutrólogo, olha só uma informação atualizadíssima: aposte no amendoim para perder peso! Sim, você leu direito: para perder peso. Parece paradoxal? Se o amendoim é calórico, como consumi-lo e perder peso? “Esta oleaginosa contém gorduras insaturadas e vitamina E, nutrientes fundamentais para o controle do apetite, além de ser também uma boa fonte de fibras, o que também dá saciedade”, explicou a nutricionista Vanderli Marchiori, de São Paulo. Ou seja, se você consumir 40 gramas – o equivalente a um punhado – na hora do lanche poderá obter o benefício. “Esta quantidade representa 150 calorias. E elas vão substituir as muitas outras de tantos outros alimentos que vão deixar de ser ingeridos nas duas horas seguintes. Um de seus principais predicados é promover a sensação de barriga cheia. Ele precisa ser muito mastigado, o que ativa o centro cerebral que controla nossa saciedade e faz com que a fome demore mais para aparecer. Além disso, é fonte de fibras, que demoram mais tempo para ser digeridas, prolongando esse efeito”, completa Vanderli.
As vantagens para a boa forma e a saúde não param por aí. Além da mãozinha na hora de emagrecer, o amendoim também é um protetor do coração. Isso porque contém nutrientes fundamentais para diminuir o colesterol LDL e manter as artérias sempre saudáveis, afastando o risco de doenças cardiovasculares, com fitoesteróis, resveratrol e arginina. “E, como toda oleaginosa, o amendoim é fonte de gorduras do bem”, ressalta o Dr. Chueire. Há consumidores que admitem que até o trânsito intestinal é estimulado, ganhando o amendoim um ponto a mais por ajudar a melhorar o intestino constipado.
Diversidade de produtos
Em forma de pasta, doce, torrado, com ou sem sal, o amendoim é um alimento versátil que pode ser consumido em diversas ocasiões. A principal forma de consumo é por meio dos grãos, torrados ou cozidos. A farinha, contudo, é altamente proteica e pode ser utilizada de várias maneiras, sobretudo na panificação e confecção de doces e salgados. No processamento industrial os grãos podem ser utilizados para obtenção de óleo e farelo, na fabricação de produtos alimentícios, no ramo de conservas e na indústria farmacêutica. A qualidade do seu óleo é superior ao do azeite de oliva, o que pode ajudar na prevenção de doenças cardíacas.