Assim como em outras cidades tradicionais de todas as partes do mundo, a Athenas Paulista possui um imponente coreto no seu mais antigo e belo conjunto arquitetônico, que é a Praça da Catedral.

Se consultarmos um dicionário etimológico, nele veremos que coreto é uma palavra formada por dois elementos: khoros (conjunto de sons musicais) e eto (sufixo denotativo de diminuição) cujo significado é pavilhão construído ao ar livre para apresentações artísticas e concertos musicais.

Com essa finalidade, os coretos surgiram no fim do século XVIII como fruto dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade gerados pela Revolução Francesa. Naquela época, a cultura deixou de ser privilégio dos nobres, saiu de ambientes fechados como o dos teatros e se espalhou pelas praças para se colocar ao alcance do público. No interior do Brasil, esses espaços culturais podem ser encontrados em localidades mais tradicionais, quase sempre na parte interna de um jardim.

Em Jaboticabal, a Athenas Paulista, há um majestoso coreto metálico projetado pelo mestre serralheiro suíço Ulrich Nyffenegger, e edificado pela equipe de trabalho do construtor Henrique de Carli, no ano de 1929. Ficava originalmente em frente da Catedral Nossa Senhora do Carmo, bem no centro da Praça da República a qual, a partir de 1936, recebeu a denominação de Praça “Doutor Joaquim Batista”, justa homenagem a um dos mais ilustres filhos de nossa terra.

Nos anos de 1950, em meus tempos de menino, aos fins de semana, as crianças nele brincavam de “passa-canto” e, à noite, invariavelmente, havia concertos musicais quase sempre com uma das bandas de nossa cidade dirigidos às famílias que ali se reuniam para caminhar, encontrar amigos, conversar ao redor dos bancos e comer pipoca.

Em ocasiões especiais, como no Dia do Trabalhador, Dia da Cidade e Festa da Padroeira, nosso coreto foi palco de shows musicais, com artistas de renome nacional: Carlos Galhardo, Mário Zan, Elza Soares, Carlos Gonzaga, Jerry Adriani e muitos mais. Jamais me esquecerei de um espetáculo ocorrido no ano de 1956, o Show Vigorelli, patrocinado pela Livraria Acadêmica, destacando-se João Dias, Osni Silva, Lana Bittencourt, Elza Laranjeira, que eram cantores do Rádio em evidência na época, tendo sido apresentados por Salomão Ésper.

Em tempos pré-eleitorais para a presidência da República e governo do Estado, serviu de palanque aos mais notáveis políticos fazerem seus inflamados discursos, com especial destaque para Getúlio Vargas, Adhemar de Barros, Lucas Nogueira Garcês, Plínio Salgado, Hugo Borghi, Auro Moura Andrade, Emílio Carlos, Carvalho Pinto e Jânio Quadros. Quando a disputa por votos era para o cargo de prefeito municipal, ficaram na História da Cidade os comícios de Duílio Poli, Alberto Bottino, Renato Bruno, Antônio Arrobas Martins, dentre outros.

Em 1965, durante o governo municipal de Dr. Alberto Bottino, o coreto foi removido para uma das laterais da Praça a fim de ceder seu lugar à fonte luminosa “Vitória Régia”.

Atualmente, em meio à onda de vandalismo que se espraia pelos espaços públicos, esse imponente pavilhão metálico o qual, por meio da Lei Municipal n° 3.425/2005, recebeu o nome do maestro Edu Valério, insiste em sobreviver às depredações e ao descaso daqueles que por ele teriam obrigação de zelar; mesmo assim, continua como palco para eventuais apresentações da centenária Banda Musical “Gomes e Puccini”, nem sempre prestigiadas pelo público que, dentre outras razões, deixou de sair de casa por se tornar refém dos programas noturnos de TV.

Há de se esperar que essa joia arquitetônica da Athenas Paulista mereça por parte daqueles que ainda têm identidade com as tradições culturais de nossa cidade um melhor tratamento e não se encaminhe para o mesmo fim dos vasos artísticos, dos caramanchões e dos espelhos d’água que embelezavam nosso mais tradicional jardim público.

Porém, para o meu desencanto, nas últimas vezes em que ao seu lado passei, tive a nítida impressão de que nosso coreto se encontra aparentemente insatisfeito, não somente por ter sido despejado de seu local de origem, mas também por se encontrar mal cuidado e descontextualizado na paisagem urbana moderna, já que seu interior se tornou depósito de ferramentas utilizadas no trabalho de jardinagem, e seu palco, abrigo noturno para andarilhos.

*Foto: TripAdvisor

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