Siamesas unidas pela cabeça são separadas com sucesso no HC de Ribeirão

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Muita emoção marcou o fim de semana de dezenas de pessoas envolvidas na tentativa de separação da gêmeas siamesas craniópagas (unidas pelo topo das cabeças), em Ribeirão Preto. Depois de oito meses de espera, cinco procedimentos cirúrgicos e uma angústia dos pais, dos amigos e empenho da equipe envolvida, as gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora , de dois anos, foram separadas no Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, às 21h do último sábado (27), em uma delicada cirurgia que durou mais de 20 horas.
A cirurgia terminou no domingo, e na segunda-feira, dia 29, a equipe técnica convocou uma entrevista coletiva que contou com a participação do O Combate. Na entrevista, os neurocirurgiões Dr. Hélio Machado, que coordenou a equipe do HC e Dr. James Goodrich detalharam como foi o procedimento e falaram sobre o que está por vir.
As meninas passaram por um dos mais complexos procedimentos médicos já realizados no país e que envolveu o reforço do neurocirurgião norte-americano James Goodrich, do Montefiore Medical Center, de Nova Iorque -considerado um dos maiores especialistas do mundo no assunto. A separação ocorreu às 21h09 e depois de 14 horas de cirurgia a equipe comemorou “estão separadas!”
O aviso foi dado pelos neurocirurgiões pediátricos Dr. Ricardo de Oliveira e Dr. Marcelo Volpon, que estavam trabalhando para romper a última barreira que ligava as cabeças de Ysabelle e Ysadora. Lá fora, os pais Débora Freitas dos Santos e Diego Freitas Farias, aguardavam ansiosos, mas a cirurgia continuaria por mais seis horas com a atuação dos cirurgiões plásticos liderados pelo Dr. Jayme Farina Junior. As meninas foram colocadas em mesas cirúrgicas diferentes, para a reconstrução dos crânios. Cerca de 40 pessoas entre neurocirurgiões, cirurgiões plásticos, anestesistas, intensivistas, pediatras, enfermeiros, médicos residentes e tecnólogos estiveram envolvidos no procedimento.
O caso é único na história da medicina brasileira e o resultado está sendo comemorado como um sucesso fruto da competência dos médicos do HC de Ribeirão e do auxílio imprescindível da equipe do Dr. James Goodrich.
Débora e Diego ainda vão dar entrevista, mas Débora, em bate-papo informal com a repórter do O Combate, na casa que ocupa no campus da USP, comentou que “a ficha está demorando para cair”. A alegria do casal e dos colegas que também são abrigados nas casas de apoio da USP é tanto que contagia, principalmente porque a recuperação de ambas tem superado as expectativas. Na segunda-feira, após a cirurgia, elas já respiravam sem aparelhos.
Débora e Diego trouxeram Ysabelle e Ysadora em fevereiro, quando foi feita a primeira cirurgia. Agora, a expectativa da equipe, conforme informou a pediatra Dra. Maristela Bergamo, é que as meninas fiquem na UTI até neste domingo e depois sejam encaminhadas para a enfermaria. Depois de uma intensa reabilitação, as meninas finalmente poderão voltar para casa e finalmente poderão olhar o mundo.

Relembrando a história das siamesas

Aos oito meses de gestação, durante um ultrassom, Débora recebeu uma das notícias mais difíceis de sua vida: as bebês eram “muito malformadas”. Uma ressonância apontou que as meninas eram unidas pela cabeça. Débora ficou chocada e passou a temer pela vida das filhas. “Tinha medo que elas nascessem e morressem”, confessou, contando que o que ouviu a partir daí causou muita dor. Todo tipo de observação de mal gosto, não bastando os problemas que já enfrentava.
As bebês nasceram em julho de 2016. Maria Ysabelle, com 3,5 kg e 46 cm, e Maria Ysadora, com 3,7 kg e 47 cm.
As pequenas foram transferidas para uma unidade especial e poupadas dos curiosos. Os pais buscaram ajuda com vários médicos, mas todos falavam que não havia como separar as meninas. Até que conheceram o neurocirurgião Dr. Eduardo Jucá, que esteve na entrevista coletiva nesta segunda e concedeu uma exclusiva para o O Combate. “Eu vou operar as suas filhas”, disse o cearense, que fez estudou na USP de Ribeirão. Ele procurou seus professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e a história mudou de rumo. O neurocirurgião Dr. Hélio Rubens Machado entrou em cena e acionou também o colega americano Dr. James Goodrich, do Montefiore Medical Center de NY, que já operou mais de 20 craniópagos, sem nenhuma morte.
Os médicos reconstruíram os crânios das meninas de forma tridimensional e um molde de acrílico foi feito nos EUA. Após um ano de planejamento, no dia 17 de fevereiro deste ano, as meninas começaram uma escalada de libertação que culminou com a separação no fim de semana passado.

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