Guia de Coexistência e intercâmbio entre crianças do Brasil e de Angola

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O projeto sobre abelhas encerrado na escola municipal Palma Travassos, em Jaboticabal, que publicamos na última edição do O Combate, não foi o primeiro a ser desenvolvido pela pesquisadora Marisa Clemente Rodrigues, doutoranda da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV)/Unesp Jaboticabal. Marisa há anos desenvolve um importante trabalho em Angola e agora está fazendo um intercâmbio entre as crianças de Jaboticabal e da Vila de Chibia.
“Desde 2014 que trabalho em Angola. Comecei por ser coordenadora de um projeto de produção de mel sustentável fazendo parceria com apicultores. Desse projeto, surgiu recentemente a oportunidade de trabalhar com elefantes! Os elefantes têm medo de abelhas. Em algumas regiões de Angola, existem conflitos homem-animal porque os elefantes destroem lavouras e podem até ser reativos na presença de pessoas. Tudo isso acontece pela busca de alimento e território, que tem sido cada vez mais destruído pela nossa espécie. Para tentar mitigar esse conflito e para protegermos as lavouras, desenvolvemos um projeto onde são usadas colmeias suspensas como cercas para proteger as culturas da travessia dos elefantes. Assim que eles tentam passar, as abelhas ficam ‘irritadas’ e o zumbido e ferroadas acabam por afastar os elefantes. Como eles têm uma ótima memória, não voltam a esses locais”, contou Marisa, cujo projeto além de mitigar a pobreza perservando a lavoura de mandioca, ainda proporcionou àquela população outra fonte de alimento: o mel.
O projeto gerou outro fruto: um guia de coexistência. “O Guia de Coexistência Homem-Elefante-Abelha é direcionado para as crianças dessas regiões de conflito e surgiu para levar até elas ilustrações didáticas e informações do que fazer para diminuir esse conflito. Acreditamos que as crianças são a chave para o futuro e que elas podem ser disseminadoras de conhecimento”, avaliou Marisa.
Ela conta que como vem desenvolvendo atividades paralelas na vila da Chibia e em Jaboticabal, achou interessante conectar as crianças dos dois projetos que certamente já têm tópicos em comum sobre o mundo das abelhas e a vida em sociedade. “Inicialmente lancei a ideia na escola Palma Travassos e tanto os olhos das crianças quanto dos professores brilharam. Então senti que esse intercâmbio pode trazer frutos e pode conectar mundos e realidades tão distantes. Quando falei da ideia ao diretor da escola de Chibia, ele disse que com certeza faremos a diferença e marcaremos a vida das crianças de lá, que pouco contato têm com o mundo exterior, pela falta de recursos. Os países e a língua são irmãos, porque não conectar as crianças, não é?”, provocou.
Marisa fala que com pequenas ações podemos não mudar o mundo diretamente, mas mudar a comunidade onde moramos. “Se nos conscientizarmos sobre nossos hábitos mudaremos o mundo, tal como as abelhas, que juntas fazem acontecer a polinização, fundamental para termos alimentos, e produzem algo tão doce e bom quanto o mel. Para proteger as abelhas, e no fundo para nos protegermos, sinto que primeiro devemos ter consciência da comunidade onde estamos, olhar em volta e pensar: o que posso fazer para melhorar o lugar onde eu moro? Não pensar só no contexto nossa casa, mas pensar maior. Pensar na nossa rua, no nosso bairro, na nossa cidade. Colorir nossas vidas plantando flores, pensando em hortas comunitárias, criando ninhos naturais para abelhas nativas, procurando informações para conhecer melhor nossas abelhas sem-ferrão, que são inofensivas, respeitando sempre o trabalho que elas fazem porque todos dependemos delas diariamente, mesmo sem perceber”, encerrou a pesquisadora.

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