Colocar aparelho é so para ficar bonito? Claro que não. O tratamento ortodôntico na infância normalmente é associado à correção do alinhamento dos dentes. Algumas crianças têm os dentes apinhados ou tortinhos, por exemplo, o que compromete tanto a estética quanto a funcionalidade. No entanto, o uso de aparelhos ortodônticos e ortopédicos podem ser extremamente útil para melhorar funções que, aparentemente, não estariam diretamente relacionadas à dentição.
Em entrevista ao O Combate, a ortodontista Fernanda Baboni explica que um dos benefícios que o aparelho pode proporcionar para algumas crianças diz respeito à mastigação. “A digestão dos alimentos começa na boca e quando a mordida está errada, de alguma forma, esse processo é comprometido”, comenta.
A especialista explica que quando a criança tem algum desses problemas, ela pode não conseguir triturar os alimentos corretamente, pode mastigar somente de um dos lados, ou até sentir dores. “Quando a mastigação não acontece corretamente, os pequenos podem ter outros problemas como dores de estômago, má digestão e até mesmo disfunção nutricional. As vezes, os pais nem sabem que alguns problemas de saúde podem estar relacionada a um problema ortodôntico”.
Ainda há um senso comum de que o uso de determinados tipos de aparelhos dificultam a dicção da criança, podendo até ser motivo de constrangimento na escola. Mas a verdade é justamente o contrário. “Dentes mal posicionados, apinhados ou tortos e desequilíbrio esqueléticos (ossos da face) podem causar transtornos na fala, já que eles influenciam nas funções do chamado sistema estomatognático, formado pelos dentes, músculos, ossos e outros componentes que interferem na articulação das palavras”, afirma.
A ortodontista também ressalta que os dentes fornecem apoio para a língua para proporcionar a dicção correta. Se eles estiverem mal posicionados, a criança terá dificuldades de se comunicar por esse motivo, pois não conseguirá pronunciar as palavras da forma adequada. “Isso faz com que esse paciente tenha dificuldades para se expressar e pode até prejudicar o convívio social. Por isso, a avaliação de um ortodontista é essencial para verificar se o uso do aparelho é viável para melhorar essa questão”, comenta. O contrário também é verdade, pois a posição da língua também pode interferir no posicionamento dos dentes. Por isso muitas vezes um trabalho em conjunto com um fonoaudiólogo é imprescindível.
A respiração bucal também pode ter influência nos ossos da face. Esse hábito pode provocar mal hálito, além de favorecer doenças respiratórias, como a bronquite e a rinite. A boca não tem a mesma capacidade de filtrar, aquecer e umedecer o ar, preparando-o para chegar até a traqueia, como o nariz. “Geralmente, usamos aparelhos ortopédicos para expandir a maxila e corrigir o posicionamento ósseo em caso de mordida cruzada posterior, o que favorece a respiração”, explica.
Além disso, a criança que já tem instituído o hábito de respirar pela boca pode ter más oclusões como consequência disso, ou seja, alterações maléficas na posição dos dentes e ossos da face como um todo. Nesse tipo de caso, o aparelho vem como uma forma de corrigir esse problema, que pode exigir um tratamento multidisciplinar dependendo da severidade.