Arenavírus e coronavírus. Dois nomes que vêm ocupando páginas de jornais e transmissões em emissoras de TV e rádio em vários países e que também assombram a população brasileira. No dia 22 deste mês foi publicado boletim epidemiológico do Ministério da Saúde com a identificação de um caso de febre hemorrágica brasileira no estado de São Paulo. O caso, que evoluiu para a morte do paciente, teve grande repercussão nos noticiários e também é considerado um evento de saúde pública grave pois, no Brasil, a primeira e única vez em que foi relatado caso como este foi no início da década de 1990.
A doença é considerada de origem zoonótica, ou seja, doença naturalmente transmitida entre pessoas e animais vertebrados. Os roedores silvestres são considerados reservatórios da doença e, quando cronicamente infectados, podem eliminar o vírus por toda a vida. Cabe aos veterinários estabelecerem estratégias de controle não só dessa zoonoses, mas também das demais que acontecem pelas interações dos seres humanos e animais com o meio ambiente.
O médico Maurício Lacerda Nogueira, que é docente da Famerp, em São José do Rio Preto, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, explica que o agente da febre hemorrágica brasileira é o sabiá, um vírus que foi isolado em um veterinário em Cotia, há cerca de 20 anos. Ele é um vírus transmitido por camundongo silvestre, ou seja, é uma questão de exposição ocupacional. São animais silvestres que provavelmente se aproximam de silos, por exemplo. É uma doença grave, mas ainda não sabemos qual a real importância dela. São pouquíssimos casos descritos no Brasil. Teve uma infecção fora do Brasil, mas foi acidente de laboratório. É uma doença brasileira”, informou o Dr. Maurício.
As pessoas contraem a febre hemorrágica (arenavírus) principalmente por meio da inalação de aerossóis formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados. Os sintomas iniciam com febre, mal-estar, dores musculares, com evolução para alterações neurológicas e até mesmo a morte. O evento noticiado pelo Ministério da Saúde é classificado como incomum e inesperado e, considerando a família do vírus, este agente pode apresentar alta patogenicidade e letalidade. O período de incubação é de seis a 14 dias. O diagnóstico é isolamento viral, PCR, ELISA, sequenciamento do genoma viral e o tratamento, suporte à sintomatologia e antivirais.
Coronavírus
Um novo vírus que ataca o sistema respiratório e se espalhou a partir da região de Wuhan, na China, preocupa o planeta. Ele pertence à família dos coronavírus, um grupo que reúne desde agentes infecciosos que provocam sintomas de resfriado até outros com manifestações mais graves, como os causadores da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e da MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio).
O Ministério da Saúde investiga um caso suspeito de coronavírus em Minas Gerais. Na terça-feira desta semana, dia 28, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que a pasta investiga uma paciente que apresentou sintomas “compatíveis” com os da doença. Trata-se de uma estudante de 22 anos que viajou para Wuhan, na China. Ela chegou em território brasileiro no dia 24 de janeiro. Segundo o ministro, a estudante está num hospital de alta organização na área de infectologia. Todas as 14 pessoas que tiveram contato com a estudante também estão sendo “monitoradas”. Na China, até o fechamento desta edição, 106 pessoas haviam morrido pela doença.
O Dr. Maurício Nogueira lembra que os coronavírus são emergentes, porque são vírus de RNA que fazem recombinação, e, portanto, têm uma capacidade de emergir muito frequentemente. “Sempre novos vírus estão aparecendo e este parece, atipicamente, que consegue ter uma transmissão mais frequente ainda que o SARS e o MERS. Estes dois causam infecção do trato respiratório inferior. Eles causam infecção muito mais grave, mas transmitem menos. Parece que este vírus provoca uma infecção um pouco menos grave, mas transmite mais”, comenta o Dr. Maurício.
O especialista em Virologia lembra que ainda é preciso pesquisar muito este novo vírus e a Agência da ONU, que havia informado em relatórios anteriores que seu risco em nível global era moderado, agora corrigiu a informação e classificou que o risco do coronavírus é alto.
A Organização Mundial de Saúde, a OMS, decidiu não declarar o surto do novo coronavírus como uma emergência de saúde pública de interesse internacional — uma designação usada raramente, apenas para situações mais graves que podem demandar ações globais coordenadas para conter a transmissão de uma doença. Segundo a OMS, é uma emergência na China, ainda não se tornou uma emergência de saúde global, mas pode tornar-se uma. A abordagem cautelosa da OMS desta vez ocorre após a agência ter sido criticada no passado por ter sido lenta ou rápida demais ao empregar o termo em situações semelhantes — ele foi usado pela primeira vez na pandemia do vírus H1N1, em 2009. Muito embora este novo subtipo do coronavírus não esteja em caso de pandemia, paíse como Estados Unidos em Canadá, onde já foram verificados casos, estão em alerta.
Nomeado oficialmente de 2019-nCoV, o novo coronavírus causa infecção respiratória aguda. Os sintomas começam com uma febre, seguida de tosse seca e, depois de uma semana, falta de ar. Ainda não há cura, nem vacina.
Em humanos, o período de incubação — no qual a pessoa tem a doença, mas nenhum sintoma — varia entre um e 14 dias, segundo as autoridades. Sem os sintomas, a pessoa pode não saber que tem a infecção, mas já espalhar a doença.
Este novo coronavírus é similar a outros dois identificados nas últimas décadas. Os responsável pela SARS matou 774 das 8.098 pessoas infectadas em uma epidemia que começou na China em 2002.
O que esteve da MERS matou 858 dos 2.494 pacientes identificados com a infecção desde 2012 nesta mesma região do mundo.
Segundo o Dr. Maurício, as investigações sobre transmissão do novo coronavírus ainda estão em andamento. O Ministério da Saúde acrescenta que a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por contato, está ocorrendo e pode ocorrer de forma continuada.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, alguns vírus são altamente contagiosos (como sarampo), enquanto outros são menos. Ainda não está claro com que facilidade o novo coronavírus se espalha de pessoa para pessoa. Apesar disso, a transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como: gotículas de saliva; espirro; tosse; catarro; contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão; contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

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