Dentre tantos assuntos possíveis e pertinentes de serem refletidos neste momento ímpar que a humanidade vem experimentando, acredito na importância de falarmos sobre o olhar. Isso mesmo, o olhar! Que olhar estamos tendo acerca do que estamos vivendo? Como estamos enxergando a atual situação e como nosso olhar tem influenciado na forma como estamos reagindo a tudo isso? Pensando que o olhar é algo único e subjetivo a cada indivíduo, acredito ser a hora de fazermos um balanço, de dedicarmos um tempo à autoanálise e, assim, descobrirmos um pouco mais sobre nós mesmos.
Passados cerca de 60 dias de quarentena e por não sabermos quanto tempo mais ainda deveremos permanecer assim, entendo que agora seja possível e importante refletirmos sobre o que temos aprendido ou não com esta experiência. É certo que viver a quarentena é um desafio para todos, porém, para uns mais que outros. Também é certo que a maneira como olhamos para tudo que tem acontecido determina muito a forma que enfrentamos esse desafio e o quanto ele se torna mais ou menos difícil.
Para que todos nós possamos aprender diante o desafio imposto pela pandemia do novo coronavírus, precisamos mudar a forma de olhar para tudo isso e substituirmos nossos pensamentos e, consequentemente, nossas ações. Alimentarmos pensamentos negativos é danoso à nossa saúde mental, pois nutre de emoções que aumentam nossas angústias e minam nossas esperanças. Experimente substituir isolado por protegido; confinado por salvando vidas; fim do mundo por um novo mundo; tragédia por mudança; problema por desafio; medo por confiança; solidão por autoconhecimento; tédio por pausa criativa.
As perguntas que devemos nos fazer são “que papel desejamos ocupar neste momento da história da humanidade? Que papel desejo ocupar neste momento da minha história? O de coadjuvante, aquele que se vê impotente diante ao caos, entregue à própria sorte, esperando as coisas acontecerem e os dias passarem? Ou o de protagonista, aquele que compreende a situação, a encara com responsabilidade e busca aprender com ela? Vítimas ou coadjuvantes, protagonistas, o que queremos ser, que olhar queremos ter?”
Não é fácil, ninguém disse que seria! Sabemos que cada um tem uma batalha pessoal para travar neste momento, sabemos que, ao contrário do ditado popular, não estamos no mesmo barco, apenas na mesma tempestade. Mas não devemos nos esquecer que grandes desafios, mesmo aqueles que podem gerar dor, desconforto e incômodo, também podem nos fortalecer. Nós, seres humanos, temos a incrível capacidade de nos reinventarmos, de tornar nossas carapaças ainda mais resistentes, embora flexíveis. Eis a beleza e grandeza em ser humano!
Que olhar queremos ter? Que histórias queremos contar? Daqui a 20 anos, lá em 2040, o que contaremos a nossos filhos, sobrinhos, netos, alunos? Será que falaremos sobre 2020 dizendo que apenas sofremos, que foi horrível, que perdemos muito. Ou também diremos que, apesar de toda dificuldade e tristeza que enfrentamos, aprendemos, nos fortalecemos, nos reinventamos. Diremos o quanto fomos solidários, empáticos e verdadeiramente humanos? Que histórias vamos querer contar? Não é sobre mudar os caminhos, mas sim sobre reinventar um novo caminhar. Não é sobre mudar os olhos, mas sim, mudar o olhar! Que todos nós possamos ter um novo olhar, forte, corajoso e de muita esperança em um futuro renovado.